Eis que alcanço a marca de 100.000 músicas ouvidas e registradas no Last.fm.
12 minuto(s) de leitura.Como disse na página inicial deste site, a música é uma coisa importantíssima para mim. Dentre as formas de arte, as que mais me chamam a atenção são a literatura, o cinema e a música, sendo esta última a que ocupa o lugar mais especial. Com a música, em um curto espaço de tempo, eu consigo sentir e expressar meus sentimentos de uma forma que nada mais me permite fazer. Muitas foram as vezes que, sentado sozinho com o aparelho de som, recarregava minhas energias ou afogava minhas mágoas. Muitas foram as vezes que a música embalou noites alegres de muita bebedeira com meus amigos. Muitas foram as vezes nas quais eu estava focado trabalhando em algo e lá estava mais uma vez a música ditando o ritmo do serviço. Foi com ela também que aprendi inglês. Um inglês fajuto, diga-se de passagem, mas que me ajudou muito e se provou eficiente quando viajei sozinho para a Europa.
Sempre tentei entender as letras e buscar a poesia que havia ali. A literatura que fazia par com as notas musicais. É ela que nos faz refletir sobre nossa vida, nossos momentos. Não importa o que o poeta queria dizer quando ele a escreveu, o que importa na verdade é o que cada um de nós sente e interpreta ao ouvir a composição, e isso nos faz muitas vezes co-autores, pois colocamos nossos sentimentos e nossas emoções na música.
Ela sempre esteve presente em todos os momentos da minha vida.
No dia 13 de junho de 2006, criei uma conta em um serviço online chamado Last.fm. Na época ele tinha como objetivo catalogar e analisar as músicas que o usuário ouvia e recomendar outras parecidas que pudessem agradar. O serviço, por estar uns anos à frente do seu tempo, acabou não sendo muito bem aceito e perdeu um pouco da relevância, mas mesmo assim continua firme e forte e ainda conta com uma comunidade bastante ativa. Agora, pouco mais de 15 anos depois, alcanço a marca de 100.000 músicas ouvidas e registradas.
Quando a contagem chegou em 99.990, parei e fiquei pensando nas últimas 10 que seriam necessárias para a marca. Elas teriam que ser especiais de alguma forma. Resolvi então fazer uma lista que inicialmente contava com cerca de 21 músicas e que aos poucos foi sendo podada. A marca pode ser vista na captura de tela abaixo, e a justificativa das escolhas logo após.
A lista
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Opeth - Burden: Opeth é uma banda sueca formada no final da década de 1980. Seus discos mais antigos podem ser classificados como death metal progressivo e contavam com os famosos vocais guturais que contrastavam com vocais limpos e bem definidos. Até a primeira metade dos anos 2000 essa era a fórmula utilizada por Mikael Åkerfeldt nos trabalhos da banda. Já os últimos álbuns, de 2011 para cá, evoluíram a parte progressiva, adicionando elementos ainda mais inusitados e aniquilando de vez os vocais guturais, classificando a banda como rock/metal progressivo. No meio do caminho houveram álbuns que fizeram bem essa transição, e foi através de um destes álbuns que eu conheci a banda. O nome dele é Watershed e contém a música que está na décima posição dessa lista. Burden pode ser classificada como uma power-ballad do grupo sueco. Não é a mais famosa e nem a mais apreciada pelos fãs, mas eu realmente gosto dela. É longa, conta com quase 8 minutos de duração, mas tirando este fato que pode assustar muita gente, ela é linda, possui elementos completamente diferentes do habitual (é progressivo, né?) e tem como ápice um solo de teclado (???) incrível. Não foi o primeiro material que ouvi deles, mas foi o que me fisgou. Possui um clipe oficial que conta apenas com 4m16 de duração e pode ser visto no Youtube.
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Metallica - The outlaw torn: Ao contrário de Opeth, Metallica dispensa apresentações. É simplesmente a maior banda de metal do mundo. Ponto. Possui trabalhos incríveis e eu gosto de praticamente tudo que vem do grupo. The outlaw torn está presente no álbum Load, de 1996, um álbum bastante controverso. Surgiu em uma época complicada para a banda, uma época na qual eles tentaram se reinventar, testar coisas novas, seguir por estradas secundárias e não pavimentadas. É um álbum que na época que foi lançado causou uma rejeição muito grande por parte dos fãs que se sentiram “traídos” por uma sonoridade tão diferente do habitual thrash metal já consolidado pela banda. O álbum Load, junto ao seu irmão gêmeo ReLoad, marcaram a fase Load/ReLoad. Apesar de terem sido muito criticados pela sonoridade, foi nessa fase que James Hetfield, o vocalista/guitarrista base, conseguiu compor as melhores letras até então, muitas delas falando de problemas de sua vida. Podemos notar o quanto James estava imerso naqueles versos e tocando em assuntos importantes para ele, como a relação com sua mãe, seu problema com álcool, sua visão de verdadeiros heróis, seu amor por carros e assim por diante. The outlaw torn é um épico de quase 10 minutos com um pé no progressivo, tem um clima incrível, um peso gigante, um andamento bastante cadenciado e um arranjo sensacional. Foi escrita para ser um épico e é considerada pelo próprio James como uma das suas melhores composições. Não possui clipe oficial, mas a versão orquestrada presente no álbum S&M, de 1999, é belíssima e chega a me dar arrepios cada vez que eu ouço.
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Foo Fighters - Everlong: Foo Fighters foi a banda que me colocou de vez no mundo do rock, que fez eu amar a música de uma forma nunca antes amada. Na formatura do ensino médio, foi uma música da banda que eu escolhi para receber o diploma (All my life), e na faculdade também (Hey, Johnny Park!). Existem várias outras músicas que eu simplesmente amo, mas Everlong é a mais clássica delas. Lembro de estar na casa de um amigo e ver o clipe no Disk MTV lá pelos idos de 1997 ou 1998. Confesso que durante muitos anos eu achei a letra meio sem sentido e precisei ir atrás para entender, buscar explicações de outras pessoas através das suas perspectivas. Demorei demais para fazer isso, que aconteceu há poucos meses. Como o próprio Grohl disse em uma entrevista à revista Kerrang, em 2006: “Esta música é sobre uma garota por quem eu me apaixonei e era basicamente sobre estar conectado a alguém de tal forma que você não apenas a ama física e espiritualmente, mas quando você canta junto dela, harmoniza-se perfeitamente.” Possui um clipe oficial, mas a versão acústica é muito mais linda.
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Eddie Vedder - Hard Sun: Eddie Vedder interpretou essa música para ser trilha sonora do filme “Na natureza selvagem”. A música foi originalmente composta por Gordon Peterson para seu álbum chamado Big Harvest. Não tenho muito o que dizer dela, apenas que é uma das mais belas interpretações de Vedder e faz parte do meu filme favorito. Foi por pouco que Society, também presente na trilha do filme, não tomou seu lugar. Pessoalmente até prefiro Society pela mensagem que ela passa, mas Hard sun é a música do chave dali. Teve que ser essa. Esta versão ao vivo e estendida é muito legal.
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Anathema - Everything: O ano era 2010. Eu estava cada vez mais apaixonado por bandas de progressivo quando descobri Anathema. E foi amor à primeira audição. O grupo nasceu em Liverpool, casa dos Beatles, mas 30 anos depois do famoso quarteto. Com uma sonoridade que não era nada igual à famosa banda inglesa, o Anathema iniciou sua carreira com um álbum que seguia o estilo death-doom metal. Confesso que não gosto do estilo, e felizmente, com o tempo eles foram se reinventando e deixaram de lado aquela energia escura e pesada. Começou no terceiro álbum, que tinha uma pegada que misturava rock alternativo com gothic metal e dali saíram vários clássicos. No decorrer dos anos, eles foram flertando com o progressivo, até que na década de 2010 eles novamente se reinventaram, assumiram o namoro com o gênero, contrataram Steven Wilson para ajudar na produção e lançaram o “We’re here because we’re here”, álbum que contém a música em questão. É um trabalho que me passa uma sensação de vida, de luz, de energia boa, positiva. De amor. A mensagem é mais ou menos a seguinte: dane-se o medo, apenas viva a vida e ame o máximo que puder. Uma das melhores músicas de uma das melhores bandas na minha opinião. Não tem clipe oficial, mas o DVD gravado na Bulgária em 2012 é muito lindo.
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O Teatro Mágico - Quando a fé ruge: O Teatro Mágico pode ser definida como uma banda/circo. Possui palhaços que tocam os instrumentos e bailarinas que se apresentam nos trapézios enquanto a banda toca. A musicalidade é uma mistura de pop, rock e ritmos variados bem brasileiros, mas o melhor de tudo são as letras das músicas, ricas poesias que falam de coisas do cotidiano, passando mensagens lindas de amor, esperança, igualdade e fé. Um espetáculo sonoro e visual de uma sutileza ímpar. Além de todas estas coisas boas, eles criaram a sigla “MPB”, ou “Música para Baixar”. Todas elas são licenciadas pelos termos da Creative Commons, o que significa que qualquer um pode baixar e ouvir de graça, sem um pingo de preocupação e com a mente tranquila. A música em questão está no disco Grão do Corpo, de 2014, álbum este que, na minha opinião, é o mais maduro deles até hoje. Foi realmente difícil eu escolher apenas uma, mas essa talvez seja a que eu mais ame. Não possui clipe oficial, mas existe uma versão ao vivo que vale ter cada segundo apreciado.
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Followed by Ghosts - King, my queen: Followed by Ghosts é uma banda pouco conhecida. Na verdade, nada conhecida. Nascida em Iowa/EUA, eles misturam diferentes gêneros musicais, dentre eles o ambiente, post rock e uma pitada de progressivo. Todo seu trabalho é instrumental, isto é, nada de vocais. O primeiro álbum, intitulado The Entire City Was Silent, foi totalmente gravado dentro de uma igreja para que a sonoridade desejada pelos músicos fosse alcançada. Mas King, my queen está presente no terceiro disco do grupo, Still, here, lançado em 2011. Não sei explicar exatamente a sensação que esta música passa, mas o lento ritmo inicial da guitarra, a adição dos demais instrumentos e o crescendo que vai acontecendo no decorrer me deixam simplesmente fascinado, com um sorriso no rosto. Não possui clipe, mas achei um quase oficial.
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Pink Floyd - Wish you were here: Pink Floyd é outra banda que não preciso apresentar. É simplesmente a maior banda de rock progressivo do mundo. Confesso que na minha adolescência tinha um grande preconceito com ela, até que em um aniversário de uma amiga ouvi essa música. Lembro da cena: era final de junho de 2010, uma noite fria de inverno, estávamos em 5 ou 6 pessoas dentro de um carro e a aniversariante colocou Wish you were here. Naquele dia, aquela situação fez eu olhar para o Pink Floyd de uma maneira diferente, e desde então nunca mais parei de apreciar a beleza de cada canção, de cada detalhe sutilmente pensado, de cada instrumento perfeitamente executado, do timbre clássico das guitarras do Gilmour e de cada verso escrito. Confesso que foi realmente difícil escolher apenas uma da banda, haviam várias, mas Wish you were here… É difícil dar nome ao que eu sinto quando a ouço, simplesmente canto junto e me entrego à beleza da composição. Saio sempre de alma lavada. Acho que o melhor vídeo que poderia escolher é o da tão esperada (e última) reunião da banda original, gravado no festival Live 8 em 2005.
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Noah Gundersen - Blossom: O Noah é um cara que eu gosto demais. Nascido no estado de Washington, é compositor, cantor e multi-instrumentalista indie-folk. Descobri ele há uns 3 anos, num vídeo no Instagram de um cachorro chamado Loki. O vídeo mostrava o Loki sentado no banco do carona de um carro e ao fundo tocava a música Poor Man’s Son. Na época não sabia que música era aquela, então peguei a letra de ouvido e joguei num buscador. Feito! Para esta lista, fiquei em dúvida entre Ledges e Blossom, mas acabei optando pela última por apenas uma razão. Ambas possuem letras incrivelmente lindas, mas Blossom me faz lembrar muito da minha mãe. Na época que ela estava internada no hospital, antes de falecer, Carry the Ghost era o álbum que eu estava ouvindo no momento, o álbum que contém Blossom. O refrão da música fala sobre o ato de desabrochar como uma flor e dançar no céu. Bem, espero que ela esteja dançando no céu neste momento.
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Soen - Lotus: Para fechar a lista e marcar a música de número 100.000 escolhi Lotus, da banda sueca Soen. Quase ninguém de fora da cena musical sueca ou da cena progressiva vai conhecer o grupo, mas eu conheço e acho o trabalho deles incrível. A banda surgiu em 2010 e foi formada originalmente por ex-membros de outras bandas de metal progressivo, incluindo aí Martin Lopez, ex-baterista do Opeth (ver o item número 10). A música em questão foi lançada em 2019 no álbum homônimo, e traz em sua letra uma mensagem muito bonita, a de que devemos ser o mais espontâneos e simples possível, indo de encontro e lutando por aquilo que acreditamos ser o certo, sem que esqueçamos dos nossos laços, da nossa família e amigos e que possamos ser uma boa inspiração para estas pessoas. Creio que foi a música que mais ouvi entre o ano passado e este, realmente me marcou muito em vários os sentidos. Possui um clipe oficial que é igualmente lindo, vale a pena assistir prestando atenção em cada detalhe.
Infelizmente várias tiveram que ficar de fora, mas não significa que elas são menos importantes, apenas que só haviam 10 vagas disponíveis. Sei que pode parecer bobagem uma postagem falando disso, algo banal, afinal qualquer um pode ouvir 100.000 músicas sem esforço algum, mas esta forma de arte representa muito na minha vida, é uma parte importante da minha personalidade e revela muito quem eu sou. Agradeço por ter lido até aqui. =]